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07 janeiro 2025

Breve introdução ao mundo do humor na TV

Humor na TV

A televisão brasileira foi uma das primeiras criadas em todo o mundo. Tecnicamente, a quinta, atrás apenas da Inglaterra (1936), dos Estados Unidos (1939), Franca (1947) e México (1/9/1950). Alemanha e União Soviética tiveram a TV antes, mas interromperam suas transmissões no período da Segunda Guerra Mundial. Se não fomos o primeiro país na América Latina, fomos na América do Sul, um ano a frente da Argentina (1951).

Lógico que as dificuldades eram incalculáveis no tempo em que Assis Chateaubriand comprou 30 toneladas de equipamentos do mundo todo para montar sua emissora. Montagem, inclusive, feita as escondidas, pois ele queria inaugurar a TV antes de México e Cuba. Perdemos para os mexicanos por apenas 18 dias, mas vencemos sem problemas os cubanos.

A primeira transmissão oficial no Brasil aconteceu em 18 de setembro de 1950. Mas a data que mais nos interessa ocorreu dois dias depois, em 20 de setembro. Naquela quarta-feira, ia ao ar o primeiro programa brasileiro voltado ao humor. Rancho Alegre era uma adaptação de um sucesso do radio, e trazia o comediante Mazzaropi (1912-1981) as telas monocromáticas da época. O programa durou somente alguns anos, mas abriu as portas para o gênero no país.

Luis Joly e Paulo Franco

Mazzaropi, primeiro humorista na TV Brasileira

Em 1960 foi descarregado no Porto do Mucuripe o material da torre da TV Ceará Canal 2, obra pioneira do grupo Diários Associados, comandado por Assis Chateaubriand. Uma noticia veiculada pelo jornal Correio do Ceará, pertencente ao mesmo grupo empresarial, informava que o material era procedente da Inglaterra e pesava 30 toneladas. Adiantava que a torre seria instalada sobre uma base de 90 metros de altura, que juntamente com a antena de 18 metros, perfazia um total de 108 metros de altura.

Logotipo da TV Ceará

Fachada da TV Ceará

A TV Ceará entrou no ar em 26 de novembro de 1960, época em que Fortaleza tinha cerca de 500 mil habitantes e apenas 200 televisores. Foi instalada no Bairro Estância Castelo (atual Dionísio Torres), no local onde hoje funciona a holding do Grupo Edson Queiroz na Avenida Antônio Sales.

Foi a primeira emissora de televisão do estado do Ceará, e contou com diversos nomes como Emiliano Queiroz, Renato “Didi” Aragão, Ayla Maria, Augusto Borges, Paulo Limaverde, B. de Paiva, João Ramos, Wilson Machado, Guilherme Neto, Ary Sherlock, Hiramisa Serra, Karla Peixoto, Assis Santos e muitos outros.

Era famosa a imagem do indiozinho bochechudo, que chegava a ficar horas no ar enquanto arrumavam os estúdios para apresentar o próximo programa. Não existiam na época nem o vídeo-tape nem as garotas propagandas para completar o tempo da transmissão, era tudo ao vivo e na hora.

Tinha, também, programas como “7 Dias em Destaque”, o qual conferia jangadinhas para as personalidades que se destacavam na semana; “Comédia da Cidade” e “Vídeo Alegre”, com o bom humor do Renato Aragão - Américo Picanço foi um dos seus primeiros pares, assim como o “Aí Vem o Circo” e “Risos e Melodias”.

Américo Picanço, o primeiro parceiro de Renato Aragão na TV.

O 'Video Alegre', lembra o jornalista Siqueira, era o humorístico que Renato fazia nas noites de quinta feira, no Canal 2. A trupe dos 'trapalhões' da época era formada por Américo Picanço (ainda vivo), Rinauro Moreira e Antônio Mendes (já falecidos), e contou em alguns episódios com a participação da atriz Maria Luiza Moreira. Os cenários, segundo Tertuliano, seriam de Audifax Rios. Aldenir Castro era um dos câmeras. Américo Picanço, também atuou no Adoráveis trapalhões da Tupi.

Fontes:


ferreira
Renato Aragão em esquetes na TV Ceará, no início dos anos 60. Foi na emissora cearense que Didi apareceu pela primeira vez na TV, no programa "Vídeo Alegre", no dia 30 de novembro de 1960.
Fotos tirados na época pelo fotografo, Leocacio Ferreira

A TV Tupi, primeira emissora do país, não viveu muito tempo sozinha. Menos de dois meses após sua estreia, a TV Record já estava no ar. Sinal de que a concorrência seria grande. Dez anos depois, em 1960, já eram vinte emissoras de TV espalhadas pelas principais cidades brasileiras, que transmitiam seus sinais para quase 2 milhões de televisores.

E paramos em 1960 para falar do segundo grande momento na historia da televisão brasileira que tem relação direta com o assunto desta obra: em 7 de setembro desse ano, a TV Excelsior, ou, como os mais antigos gostam de dizer, "a Globo da época", iniciava suas operações. A Excelsior começou forte, e exerceu muita influência em seus dez anos de duração, ate o dramático fim, em 1970, quando os gastos superavam, de longe, os lucros.


TV Excelsior e TV Record


A emissora, em seu auge, ficou conhecida por inovar no sistema de redes de televisão. Em meio à programação, vale destacar alguns feitos: foi ela quem produziu a primeira telenovela com capítulos diários (2-5499, Ocupado) e, também, a novela com maior duração no Brasil (Redenção, de 16 de maio de 1966 a 2 de maio de 1968).

Em um dos estúdios da Vila Guilherme, onde ficava a Excelsior, começaria, no mesmo ano de estreia de Redenção (1966), um outro programa que nos interessa muito mais (com todo o respeito aos amantes de novelas).

E foi tudo graças ao iê-iê-iê.

Embora o humor na televisão tupiniquim já estivesse indo bem, ele passou a dar muito espaço a crescente onda da Jovem Guarda, representada pelos artistas que trouxeram um pouco do rock-n'-roll - devidamente misturado a hegemônica cultura brasileira -, criado na década anterior nos Estados Unidos e celebrado com os quatro rapazes de Liverpool. E foi, justamente, por um dos nomes mais famosos da Jovem Guarda que os Trapalhões nasceram.


Wanderley Cardoso, talvez o precursor do "Os Trapalhões"


Wanderley Cardoso, ou o bom rapaz, como ficou conhecido, fazia parte da turma da Jovem Guarda - além de um movimento cultural, também o nome de um programa. Em 22 de agosto do ano anterior (1965), o Programa Jovem Guarda, exibido pela Rede Record, começava sua escalada ao sucesso, justamente por dar espaço ao mundo jovem, ate então excluído dos monitores televisivos.

As emissoras rivais buscavam uma forma de combater a alta audiência da Record com a sua jovem guarda - sim, as brigas por audiência já existam desde aqueles tempos. Assim, a direção da Excelsior negociou a contratação do cantor Wanderley Cardoso, integrante da turma do iê-iê-iê da Record.

Mas qual a relação de Wanderley Cardoso com o grupo humorístico mais famoso do Brasil? Tecnicamente, o cantor pode ser considerado a causa do nascimento de Os Trapalhões-mais que isso, ele foi o primeiro trapalhão. Mas, antes disso, precisamos falar de como Didi encontrou Dedé. Ou vice-versa?

Luis Joly e Paulo Franco

05 janeiro 2025

Os Trapalhões e sua História

 Introdução

...A geração mais jovem desconhece o fenômeno que foram Os Trapalhões. Fenômeno que perdurou por quatro décadas, ou seja, pela maior parte da vida da televisão brasileira até o momento.

Os Trapalhões, porém, perde em um aspecto fundamental para os programas exibidos nos dias atuais: ele não sobreviveu o suficiente para chegar à era da internet. Seguindo uma linha comparativa, o nosso amigo Chaves, por exemplo, segue no ar desde a década de 1980 e conquistou uma geração que já nasceu conectada e on-line. Quando o programa, liderado por Renato Aragão, chegou ao fim, a rede mundial de computadores apenas engatinhava no Brasil. E, hoje, como sabemos, ela é a maior ferramenta para disseminação de qualquer tipo de fato - seja ele bom ou ruim.

A musica tema de Os Trapalhões, criada por Zé Menezes, permaneceu por décadas nos ouvidos dos brasileiros, e, se parou de tocar na televisão, continua a ser reproduzida na memória de todos aqueles que, aos domingos, se deixavam contagiar com a graça e o humor do inconfundível quarteto mais atrapalhado e querido do Brasil.


Zé Menezes


Para as gerações mais novas, porém, falar de Os Trapalhões é algo nostálgico. Hoje, são raríssimos os filmes nacionais que levam 3, 4, ou ate 5 milhões de espectadores ao cinema. Os Trapalhões faziam isso todas as férias, todo ano. Infelizmente, a turma de hoje acompanha, quando muito, apenas as polêmicas entre Didi e Dedé que saem de tempos em tempos na imprensa, ou os filmes que contam somente com Renato Aragão. Para eles, Os Trapalhões pode ser algo tão antigo quanto a Família Trapo ou a Praça da Alegria, nomes que surgem apenas em livros sobre comunicação e documentários sobre a historia da TV.

A nova geração não viveu a febre do grupo no Brasil. Mal sabe que ele não é dos anos 1980, nem dos 70, mas da década anterior. Para esses jovens, Renato Aragão é apenas um humorista que um dia deve ter sido genial, e, quando, aparecia aos domingos com um grupo de pessoas mais novas. Essa juventude não teve a oportunidade de ver o quarteto em seu auge - muitos não viram o inimitável Mussum com sua espontaneidade e seu carisma hilários e naturais; a pureza e a infantilidade teatral de Zacarias; Dedé quando ainda tinha pinta de galã, ou Didi nos tempos em que dava cambalhotas tão rapidamente quanto falava ô psit e estalava os dedos com um olhar magnético - seu gesto típico. Os Trapalhões foram os últimos palhaços autênticos da televisão brasileira. Em seus últimos anos de atuação, viram programas contemporâneos, como TV Pirata ou Casseta & Planeta, adaptarem-se ao humor politicamente incorreto, chamado de "inteligente" e, muitas vezes, a base de sarcasmo e alguma apelação. Entre 1966 e 1995, o grupo levou a TV o humor dos picadeiros de circo espalhados pelo país. Apresentou a nação brasileira um pouco do humor regional do país, que vai do malandro carioca ao mineiro tímido. Protagonizou a comédia mais simples e honesta possível. Em suas diversas formações, levou milhões e milhões de pessoas aos cinemas, aos circos, shows, ou simplesmente para a frente da TV, sob a bandeira de diversos canais, mas, especialmente, sob a bandeira de um humor bem-feito, ingênuo, puro e eterno - formula de sucesso em qualquer país e em qualquer época.



O titulo que demos a este livro tem duas motivações. Afinal, Adoráveis Trapalhões foi o nome do programa que deu origem ao grupo, quando criado pela TV Excelsior. Porém, o adjetivo rompe todas as barreiras de tempo e espaço. Afinal, adoráveis são as pessoas que deixam saudade, aquela saudade boa, que todos nos gostamos de ter. Portanto, ô da poltrona, instale-se confortavelmente nela e seja bem-vindo - de novo ou pela primeira vez - ao mundo mágico dos Trapalhões.

Luis Joly e Paulo Franco